Eu visitava aquela igreja e quando fomos nos dividir em
classes na manhã de Domingo o superintendente da EBD, não sei se por
inexperiência ou por descuido, disse: "e agora as crianças poderão ir
para as suas classes ouvir historinhas"... Quis ser ele gentil?
Tencionou ser acessível, recorrendo ao diminutivo para chamar a atenção dos
pequeninos? Não sei. Mas o que sei é que infelizmente tem muita gente só
contando histórias na EBD aos seus alunos. E só.
Mas não é para contar Histórias?
Claro. A história é bíblica e está na Palavra de Deus. Mas,
tantas vezes nos atemos à história, apenas ou tão somente, aos detalhes, e nos
esquecemos do PORQUÊ da história. O que Deus fez ali? Como Ele foi honrado,
obedecido ou desobedecido? Qual ensino principal tem e traz a lição? Romanos
15.4 diz que "tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi
escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras,
tenhamos esperança". Tem algo a mais na história: tem um ensino para
ser passado, uma confiança no Deus Todo-Poderoso para ser reforçada, a Pessoa
bendita de Jesus para ser apresentada ou enaltecida, uma lição de fé a ser
enfatizada, o Caráter e a Soberania divina a serem destacados, pois quando
vierem os dias maus e difíceis para estas crianças ao longo de suas vidas, com
o ensino correto, sábio e doutrinário que receberam, a consolação das
Escrituras virá de maneira mais precisa aos seus corações e isto poderá livrar
as suas almas de muitas dores. O Consolador usará as Escrituras e o que dela se
extraiu para o fortalecimento da fé em momentos como perigos, tentação ou
provação. Na sua história de vida, o ensinamento doutrinário colhido e bem
guardado das histórias que ouviu e aprendeu fará todo sentido e será de grande
auxílio. Das histórias que aprendeu, Jesus de Nazaré soube usar a DOUTRINA para
a vida. Na hora da tentação e de enfrentar o Tentador, como ocorreram várias
vezes, quando este quis deturpar o ensino das Escrituras, Jesus estava
plenamente consciente do que dizia o texto, como e para quê estava escrito, e
venceu (Lucas 4.1-13; Hebreus 2.18). Destacamos a sua segurança e firmeza
diante dos absurdos que ouvia de fariseus, saduceus e de outros religiosos da
sua época. Ele não só revelava os seus grandes desvios da Palavra de Deus, como
também os fazia corar e calar (Mateus 23.34; Lucas 20.39,40, etc.).
O Departamento Infantil é um lugar de histórias, mas se as
crianças vibrarem mais com Davi, por exemplo, do que com o Deus a quem Davi
servia e confiava, nós teremos falhado como professores de Escola Bíblica
Dominical. Se conhecerem bem a história de Sansão, mas pouco ou quase nada
ficar retido dos ensinamentos doutrinários a partir do que ouviu sobre Sansão,
então haveremos falhado.
Qual a sua atitude diante da história de Jonas?
Quando chega a nova revista e você vai dar uma olhada
superficialmente, você gosta da capa, do título, do tema... aí vai ver o
conteúdo das lições: oito lições sequenciais no livro de Jonas. O que você faz?
O que você diz? "oh, não. Jonas de novo?!" Afinal, você já
contou tantas vezes a história para a turma...
Esta atitude pode ser sintoma de que estamos muito mal
acostumados a só contar histórias e a ficarmos procurando sempre um novo meio,
técnicas e métodos para contar a mesma história de maneira atraente, perdendo
até o sono por causa disso. Contar a história ocupa mais a nossa atenção do que
passar o sadio ensino das Escrituras tantas vezes, infelizmente.
A história, as crianças já conhecem. Então, parta daí.
Relembre com elas, peça que forneçam detalhes, enriqueça a sua aula com a
participação da turminha. Se tem alguém novo na sala que nunca ouviu a história
de Jonas, conte para esta criança, mas procure tratar do foco doutrinário com a
turma e com o aluno novo também.
O que o livro de Jonas fala sobre Deus? Como Deus se revela
no texto? Será que Deus acompanha e intervém? Como temos provas da Sua
Soberania? Enfim, quantos ensinos doutrinários maravilhosos. Sugiro que você
tenha sempre à mão a Confissão de Fé de Westminster. Estude-a bem, pois
tem doutrina segura. Repasse o que aprendeu sobre Deus na história aos seus
alunos. Você verá como a sua aula crescerá e as suas crianças também! Adquira
um livro de Teologia Sistemática, enfim, prepare melhor e com mais conteúdo
teológico as suas aulas. Lembre-se: doutrina edifica. História simplesmente,
não. Tem muito preso no sistema carcerário na América do Norte e no Brasil que
ouviu muitas histórias bíblicas. Mas foi só. Doutrina trará raízes para a fé
que foi plantada no coração infantil e marcará o caráter. Abastecerá a mente e
manterá em dia uma cosmovisão bíblica e cristã das coisas; de todas as coisas e
para todas as horas. Doutrina norteará o crescimento de uma pessoa tão jovem, e
quando esta pessoa chegar à idade adulta não se esquecerá dos estatutos e da
Lei do Senhor, que é perfeita e que foi o que ela aprendeu (Pv 22.6).
Ensinar doutrina ao invés de só contar a história lhe
permitirá passar por toda a Bíblia. Você apresentará textos em outros livros
das Sagradas Escrituras e a criança começará a perceber que a Bíblia é um livro
maravilhoso, coerente, vivo, magistral, rico de ensinos preciosos e únicos, de
uma unidade perfeita. Verá o princípio de Deus em todas as páginas e crescerá
manuseando bem a sua espada! (2 Tm 2.15).
Jonas de novo?! Mas que bênção!!!
Lembro-me de ter ouvido uma história interessante. Uma
professora de alunos com idade de iniciantes no Ensino Fundamental passou todo
o semestre trabalhando em cima do livro de Jonas. Contou vários aspectos da Doutrina,
como o amor de Deus, a Justiça divina, o agir de Deus na História, o Deus da
Providência, etc. As crianças vibraram com tantos ensinamentos.
Quando chegou o dia da convenção anual de famílias daquela
denominação, todo um esquema para atender os participantes foi bem elaborado.
Tudo muito bem organizado e as crianças foram divididas em grupos e faixas
etárias. A professora do dia foi contar exatamente a história de quem?! Isso
mesmo: Jonas. E "lá pelas tantas" a empolgada professora chegou na
parte em que Jonas foi lançado ao mar. Fez o que pode para demonstrar suspense,
aumentou a voz, 'criou um clima', fez aquela entonação característica dos
suspenses... "e agora, o que é que vai acontecer com Jonas???!!!" As
crianças acompanhavam a empolgada contadora da história do profeta
desobediente. Foi quando veio a pergunta:
- Crianças, quem foi que salvou Jonas?!
Uma criança de seis anos respondeu: Deus!
A professora, no seu entusiasmo nem percebeu e disse:
"não, meu querido. Foi o peixe"!!!
Ao que um menino de seis anos respondeu: "se a senhora
quiser que eu diga que foi o peixe, eu digo. Mas quem mandou o peixe para
salvar Jonas foi o Deus de toda a providência!"
A professora aprendeu uma grande lição naquele dia. Estava
se atendo demais aos detalhes da história. E só. Tanto, que ela esqueceu
exatamente onde Deus estava na história de Jonas. O Senhor estava onde sempre
esteve, no entendimento daquele garotinho: Deus regia Soberano e era atuante,
conduzindo a história como Lhe aprazia e para a Sua glória.
Plante Doutrina e as crianças serão beneficiadas com
isso.
Existem duas maneiras de se contar histórias bíblicas e as
crianças nos mostrarão se erramos ou se acertamos. Se elas vibrarem mais e
amarem mais os personagens das histórias, algo de muito sério está acontecendo
conosco e com a nossa maneira de ensinar.
Que as crianças vibrem com o Grande Deus a quem
amamos! As histórias são um excelente meio para afirmarmos e confiramos sempre
isto. Ele é fiel. Sim, fiel assim!Fonte: Editora Fiel
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Ana Chagas